Alma

Parte espiritual do homem, distinta de seu corpo.
Embora o conceito bíblico esteja longe da rígida
dicotomia entre corpo e alma que caracteriza,
por exemplo, o hinduísmo ou o platonismo, o
certo é que também existia a crença de uma categoria
distinta do corpo que se identificava com o
mais íntimo do ser. Assim aparece no Antigo Testamento
como um “eu” espiritual que sobrevive
consciente depois da *morte (Is 14,9ss.; Ez
32,21ss.). Ainda que se insista que o *pecado causa
a morte da alma (Ez 18,4), isso não implica,
em caso algum, a inconsciência ou aniquilação
do sujeito. A morte física elimina seu corpo e destrói
os planos que fizera (Sl 146,4), porém seu
*espírito volta-se para Deus (Ecl 12,7), persistindo.
A idéia da imortalidade da alma ainda era
evidente durante o período intertestamentário e
refletida, entre outros, pelo historiador judeu Flávio
Josefo em seu “Discurso aos gregos acerca
do Hades”.
Os rabinos contemporâneos de Jesus — assim
como o Talmude judeu posterior — insistiram
também no conceito da imortalidade da alma
e da sua sobrevivência consciente (para ser atormentada
conscientemente na *geena ou feliz no
seio de *Abraão) após a morte física. Em nossos
dias, considera-se que a crença na imortalidade
da alma é uma das doutrinas básicas do judaísmo,
especialmente no seu setor reformado.
Em um de seus ensinamentos mais conhecidos
(Lc 16,19ss.), Jesus ressaltou que, no momento
da morte, a alma da pessoa recebe um castigo
ou uma recompensa consciente, e descreveu o
primeiro em termos sensíveis como o fogo (Mc
9,47-48; Lc 16,21b-24), choro e ranger de dentes
(Mt 8,12; 13,42; 24,51 etc.) etc. Apesar de tudo,
no ensinamento de Jesus não se considera a consumação
escatológica concluída na *resssurreição
(Jo 5,28-29; Mt 25,46). Ao recusar a idéia do sono
inconsciente das almas, da mortalidade da alma e
da aniquilação, ao mesmo tempo que ressaltava a
esperança da ressurreição, Jesus conservava a visão
já manifestada no Antigo Testamento e, muito
especialmente, no judaísmo do Segundo Templo,
com exceções como a dos *saduceus.
A. Cohen, o. c.; J. Grau, Escatología...; J. L. Ruiz de la
Peña, La otra dimensión, Santander 1986; C. Vidal
Manzanares, El judeo-cristianismo...; Idem, Diccionario de
las tres..; M. Gourges, El más allá en el Nuevo Testamento,
Estella 41993.