Apóstolos

São os discípulos mais próximos de Jesus, escolhidos
para expulsar *demônios, curar enfermidades,
anunciar o evangelho (Mt 10,2-4; Mc
3,16-9; Lc 6,14-16; At 1,13) e julgar as doze tribos
de *Israel (Mt 19,28). Conhecemos seus nomes
através das listas que aparecem nos Sinóticos
e nos Atos (Mt 10,2-4; Mc 3,16-19; Lc 6,14-16;
At 1,13), omitindo-se, nesse último caso, o nome
de *Judas Iscariotes. João não apresenta nenhu-
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Os apóstolos Pedro e Paulo
(Epitáfio de Ansellus)(DACL)
ma lista, porém menciona os “Doze” como grupo
(Jo 6,67; 20,24) e no mesmo sentido escreve
*Paulo (1Cor 15,5). A lista costuma ser dividida,
de maneira convencional, em três grupos de quatro.
No primeiro, o apóstolo mencionado em primeiro
lugar é sempre Simão, cujo nome foi substituído
pelo cognome *Pedro (“Petrós” [pedra],
seguramente uma tradução do aramaico “Kefas”).
Sempre associado a Pedro, vem seu irmão *André
(Jo 1,40-41; Mc 1,16) e, logo em seguida, são
mencionados Tiago e João, que eram, como os
dois irmãos citados anteriormente, pescadores na
Galiléia (Mc 1,19). Se sua mãe (Mt 27,56) era
*Salomé, irmã de *Maria, a Mãe de Jesus (Mc
15,40; Jo 19,25), seriam então primos deste. Entretanto,
a hipótese não é de todo segura. No segundo
grupo de quatro, encontram-se *Filipe de
*Betsaida (Jo 1,44; 6,5-8; 12,22), *Bartolomeu,
geralmente identificado com *Natanael (Jo 1,45-
46; 21,2), *Tomé, chamado “Dídimo” (o gêmeo)
(Jo 11,16; 20.24), e *Mateus, que deve ser identificado
com o Levi de outras listas. Finalmente,
no terceiro grupo de quatro estão Judas Iscariotes
(supostamente morto logo após a execução de
Jesus), *Simão, o Zelote, *Tiago, filho de *Alfeu
e — situado em décimo lugar em Mateus e Marcos
e em décimo primeiro em Lucas e Atos —
*Lebeu, *Tadeu e *Judas. Essa última discrepância
tem sido explicada por diversas maneiras. Alguns
apontam a falta de escritos sobre esse per-
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sonagem (R. E. Brown, “The Twelve and the
Apostolate” em NJBC, Englewood Cliffs 1990,
p. 1.379); outros identificam Tadeu com *Judas,
o irmão de *Tiago, considerando Lebeu apenas
uma variante textual (A.T. Robertson, “Una
armonía de los cuatro Evangelios, El Paso 1975,
pp. 224-226. No mesmo sentido, M. J. Wilkins,
“Disciples” em DJG, p. 181, alegando, principalmente,
a existência de uma coincidência total
no restante dos nomes), uma tese conciliadora
que, possivelmente, corresponda à realidade histórica.
F. Schleiermacher e F. C. Baur negaram que o
grupo dos Doze foi estabelecido por Jesus. De
início, é impossível negar que ele era bem primitivo,
já que Paulo o menciona em 1Cor 15,5. Além
disso, em vista da análise das fontes, o mais adequado
é fixar seu estabelecimento durante a vida
de Jesus (E. P. Sanders, M. Hengel, F. F. Bruce,
C. Vidal Manzanares etc.). Isso explicaria também
circunstâncias como a premência em completar
seu número após a morte de Judas (At 1,
15-26).
Tem-se discutido bastante desde os finais do
século passado o significado exato do apostolado.
O ponto inicial dessa análise foi, sem dúvida, a
obra de Lightfoot sobre a Epístola aos Gálatas (J.
B. Lightfoot, Saint Paul’s Epistle to the Galatians,
Londres 1865). É evidente que o termo deriva do
infinitivo grego “apostellein” (enviar), cujo uso
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não era muito comum nessa língua. Na
Septuaginta, só aparece uma vez (1Rs 14,6) como
tradução do particípio passado “shaluaj” de “shlj”
(enviar). Tomando como ponto de partida essa
circunstância, H. Vogelstein e K. Rengstorf relacionaram
a instituição dos apóstolos aos
“sheluhim” ou comissões rabínicas enviadas pelas
autoridades palestinas para representá-las com
plenos poderes. Os “sheluhim” recebiam um mandato
simbolizado pela imposição das mãos, e seus
deveres — que, muitas vezes, eram simplesmente
civis — incluíam ocasionalmente a autoridade
religiosa e a proclamação de verdades religiosas.
Por não possuirmos referências aos “sheluhim”
cronologicamente paralelas aos primeiros tempos
do cristianismo, a interpretação citada já recebeu
fortes ataques a partir da metade deste século.
Atualmente, existe uma tendência de relacionar
novamente a figura do apóstolo com a raiz verbal
“shlj”, que foi traduzida na Septuaginta
umas setecentas vezes por “apostollein” ou
“exapostollein”. O termo era bastante amplo —
como já destacou Lightfoot — indo, posteriormente,
além do grupo dos Doze. São consideradas
importantes as contribuições de H. Riesenfeld
(The Gospel Traditions and Its Beginnings, Londres
1957) e de B. Gerhardsson (Memory and
Manuscript: Oral Tradition and Written
Transmission in the Rabbinic Judaism and Early
Christianity, Uppsala 1961), que estudavam a
possibilidade de os Doze serem o receptáculo de
um ensinamento de Jesus, conforme uma
metodologia de ensinamento semelhante ao
rabínico e que, a partir deles, foi-se formando um
depósito de tradições relacionadas com a pregação
de Jesus. Essa tese, embora não seja indiscutível,
possui certo grau de probabilidade.
C. K. Barrett, The Signs of an Apostle, Filadélfia 1972;
F. Hahn, “Der Apostolat in Urchristentum” em KD, 20, 1974,
pp. 56-77; R. D. Culver, “Apostles and Apostolate in the
New Testament” em BSac, 134, 1977, pp. 131-143; R. W.
Herron, “The Origin of the New Testament Apostolate” em
WJT, 45, 1983, pp. 101-131; K. Giles, “Apostles before and
after Paul” em Churchman, 99, 1985, pp. 241-256; F. H.
Agnew, “On the origin of the term Apostolos” em CBQ, 38,
Apóstolos
38 /
1976, pp. 49-53; Idem, “The origin of the NT Apostle-
Concept” em JBL, 105, 1986, pp. 75-96; B. Villegas, “Peter
Philip and James of Alphaeus” em NTS, 33, 1987, pp. 294;
César Vidal Manzanares, Diccionario de las Tres Religiones,
Madri 1993; Idem, El judeo-cristianismo...