Servo de YHVH

Os cânticos encontrados em Is 42,1-4; 49,1-7;
50,4-11 e 52,13-53,12 falam de um personagem,
distinto de *Israel, denominado “Ebed YHVH”
(Servo de YHVH), cuja morte teria um significado
sacrifical e expiatório e anunciaria a salvação
não só de Israel, mas de toda a humanidade. O
mesmo Servo já havia sido identificado com o
*messias antes do nascimento de Jesus e até se
afirmara que sua morte seria em favor dos ímpios.
São muitas as fontes que se podem aduzir a esse
respeito. Somente a título de exemplo, mencionemos
o Henoc etíope, em que o “Servo” aparece
identificado com o *Filho do homem (13,32-37;
14,9; 13,26 com Is 49,2), descrito em termos
messiânicos tomados dos cânticos do Servo; o
Targum de Isaías; o Midraxe de Lamentações, no
qual Is 49,10 é citado em relação ao texto
messiânico de Is 11,12; o Midraxe sobre Samuel,
em que Is 53,5 se relaciona com os sofrimentos
do messias; o Midraxe sobre Rute 2,14 ou a Pesiqta
Rabbati 36 e até o Talmude (Sanh. 97b; 98b). A
idéia da *ressurreição do Servo de YHVH não
parece tampouco ter surgido com o cristianismo.
O texto hebraico de Is 53,8.10 afirma não apenas
que o Servo “foi exterminado do país dos vivos”,
mas também que, após sua morte expiatória, “prolongará
seus dias” e “verá a luz”. A palavra “luz”
encontra-se ausente do Texto Massorético; deve,
porém, ter pertencido ao original, e boa prova disso
é que aparece na Bíblia dos LXX e também é atestada
nos manuscritos hebraicos pré-cristãos da
Guita 1 de Qumrán (1QIsa e 1QIsb).
É absolutamente inquestionável que Jesus viu
a si mesmo como o Servo de YHVH, o que ofere-
ce uma das chaves essenciais para compreender
a ele e seu ensinamento. Mc 10,45 demonstra
como também Jesus viu sua morte como Servo,
com o título de Filho do homem (Comp. Lc 14,16-
24; 22,27). Partindo dessa autoconsciência, é compreensível
que recusasse ser um messias político
(Lc 4,5-8; Jo 6,15), que esperara e anunciara sua
morte (Mt 16,21ss.; Mc 14,8 e par.; Lc 20,13ss.);
que considerara expiatória essa morte e com ela
inaugurara a *Nova Aliança (Mt 26,26 e par.) e
que até mesmo aludira à sua ressurreição e à entrada
dos *gentios no *Reino, já que, de fato, os
cânticos do Servo de Isaías expressam todas essas
afirmações.
M. D. Hooker, Jesus and the Servant, Londres 1959; B.
Gerhardsson, “Sacrificial Service and Atonement in the
Gospel of Matthew” em R. Banks (ed.), Reconciliation and
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D. Juel, Messianic Exegesis: Christological Interpretation
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F. F. Bruce, New Testament Development of Old Testament
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1990, pp. 1-28 e 170-173; C. Vidal Manzanares, El judeocristianismo...;
Idem, El Primer Evangelio...; J. Jeremias,
Teología...; T. W. Manson, The Servant-Messiah, Cambridge
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