Filho do homem

Atualmente, é difícil encontrar um título relacionado
com a pessoa de Jesus que tenha provo-
cado maior controvérsia quanto ao seu exato significado.
A expressão tem sido interpretada de
diversas maneiras: 1. Perífrase de “eu” (M. Black,
G. Vermes): certamente a expressão podia ter
esse significado ocasionalmente no século II d.C.,
mas não existe nenhum fundamento para se pensar
que esse fosse seu conteúdo um século antes;
2. Homem ou ser humano (H. Lietzmann, J.
Wellhausen): realmente, “filho do homem” pode
significar, vez ou outra, somente homem, mas nem
isso inclui um outro possível significado (P.
Fiebig), nem esgota o significado que a expressão
tem nos lábios de Jesus; 3. *messias: com esse
significado, a expressão aparece em 4 Esd (6,35;
13,3; 45,3 etc.) e no Henoc etíope (45,3; 46,4;
55,4; 61,8; 62,2; 69,27 etc.), derivando de Dn
7,13, no qual a expressão é usada pela primeira
vez como título no Antigo Testamento; 4. Servo
de YHVH: o Henoc etíope liga a figura do Filho
do homem ao Servo de Isaías (48,4 com Is 42,6 e
49,6; 39,6 e 40,5 com Is 42,1; 38,2 e 53,6 com Is
53,11 etc.). O mesmo acontece em 4 Esd, onde o
filho do homem é chamado “meu Servo” por Deus
(13,32-37; 14,9 etc.).
A interpretação que Jesus deu ao título encaixa-
se exatamente com a que se encontra no Henoc
etíope em 4 Esd. Jesus viu a si mesmo como o
Filho do homem que era, por isso mesmo, o messias-
Servo e que, portanto, morreria em *expiação
pelos *pecados (Mc 10,45 com Is 52,13-
53,12), mas que um dia retornaria triunfante para
concluir sua obra (Mc 14,62 com Dn 7,13). A visão
de Jesus enraizava-se assim numa interpretação
genuinamente judaica do termo; no entanto,
a literatura rabínica posterior evidenciou esse aspecto
para não ceder a argumentos apologéticos
procedentes dos cristãos.
O. Cullmann, Christology...; C. Vidal Manzanares, El
judeo-cristianismo...; Idem, El Primer Evangelio...; Idem,
Diccionario de las tres...; L. Morris, The Cross...; G. Vermes,
Jesús el judío, Barcelona 1977; D. Flusser, o. c.; A.
Toynbee, o. c.; F. F. Bruce, New Testament History, Nova
York 1980; A. Díez Macho, “Hijo del hombre y el uso de la
tercera persona en lugar de la primera en arameo” em Scripta
Theologica, 14, 1982, pp. 159-202.